terça-feira, 7 de setembro de 2010

Eleições 2010

Horário Eleitoral Gratuito

Eu sou um confesso telespectador assíduo do Horário Eleitoral Gratuito, fico ansioso em época de eleição para que ele logo comesse. Também pudera, o espaço reservado à publicidade dos candidatos tem uma importância tão grande em nossas vidas que deveria ser tratado como um direito e não como uma imposição, deveria ter a mesma audiência que os programas dominicais. Só que a grande maioria dos eleitores comparam o horário a uma tortura, um entrevero que os fazem desligar a televisão, que é tão importante as suas vidas. Tem também aqueles que usam o programa para dar boas risadas, admito ser muito engraçado pela completa inaptidão e falta de noção de alguns candidatos. Uns poucos o assistem no afã de escolher alguém em quem votar pelos motivos mais variados. Eu, já vejo o Horário Eleitoral como um indicador dos problemas que afligem ao todo da sociedade. Um termômetro das necessidades prementes de cada camada social. O grande problema é que a camada mais numerosa vem a ser justamente a de menor capacidade intelectual, aqueles que por precisar mais do que ninguém da ajuda do governo para existir de maneira digna, pagam por sua desventura tendo suas mentes controladas. Vivendo na treva da ignorância para que aqueles que se aproveitam das desgraças possam perpetuar as mazelas tão necessárias em época de eleição. Por assistir ao Horário Eleitoral Gratuito, posso dizer com horror que o problema educacional desse país atingiu níveis alarmantes. Pena que os que nunca assistem o horário não consigam enxergar as coisas por esse prisma. E por isso o “todo” inteiro acaba pagando pela decisão de uma maioria cega.

Veja o exemplo das eleições no Rio de Janeiro, onde a tendência do discurso é a criação de escolas técnicas. Tem até uma candidata que proferiu a estúpida frase de que “nosso pais precisa mais de técnicos do que de doutores”, ou algo bem parecido. Pensar nisso é admitir a idéia de que nos basta apenas ter comida na mesa, aos pobres cabe o conforto do emprego. O camarada é privado do sonho de mudar sua condição de vida por seu próprio esforço, é como dizer a alguém: -É até aí que você pode chegar; e esse, ainda ter de agradecer isso ao governo. O descaso com a educação tem também por reflexo o teatro em que a política se transformou, um espetáculo risível encenado por atores cada vez menos talentosos e por isso tão nocivos à população. Nessa campanha temos jogadores de futebol, ex-BBBs, atores profissionais e até “mulher fruta!” A política virou um grande cabide de empregos; vai chegar um dia em que os partidos políticos elegerão gente do calibre da Ivete Sangalo ou do Gugu para a presidência da república por sua popularidade e não por sua competência. Afinal de contas não estamos longe disso, pois já somos governados por um homem cujo renome, supera de longe a aptidão necessária ao cargo que exerce em grau importância para população. E graças aos índices, todos agora querem posar de amigo do Presidente. Por isso mesmo é tão forte aqui a idéia da importância da união dos executivos. O Presidente tem que ser amiguinho do prefeito e do governador para que os recursos para as melhorias sejam garantidos o que deveria ser um direito constitucional. Vale ressaltar que essa amizade aqui já existe e não impediu que os royalties do petróleo nos fossem retirados de forma tão covarde.

O estado do Rio, que enfrenta grandes problemas com a violência gerada pela lacuna no sistema educacional, ficou em penúltimo lugar nos índices de desenvolvimento da qualidade da educação divulgado pelo MEC, acima apenas do Piauí. E tem como favorito a re-eleição justamente o responsável por essa tragédia, o que não deixa de ser uma grande ironia, pois o povo não tem a consciência da gravidade do problema. O governador estado usa seu programa eleitoral para vangloria-se dos feitos realizados na educação: Distribuição gratuita de computadores, climatização das salas de aula, contratação de profissionais e o maior aumento salarial em décadas. Só que na verdade um professor do ensino médio recebe um pouco mais que um salário mínimo, uma das piores remunerações do país; em nosso estado o mestre ganha menos que um porteiro ou até mesmo que um gari, os próprios cabos eleitorais do atual governador são bem melhor remunerados do que um professor. As salas de aula continuam quentes porque os aparelhos de ar condicionado (alugados por uma fortuna mensal) não podem ser instalados por faltar obras de melhoria na infra-estrutura dos prédios. Há falta de profissionais no administrativo e na parte pedagógica, os diretores continuam sendo nomeados por indicação política e pouco entendem da função.

O povo continua acreditando na propaganda sem sequer certificar-se do que ocorre, de fato, nas escolas do estado. Enquanto isso nós sofremos com a violência (nossa “seca do nordeste” por utilidade), problemas na saúde e saneamento básico, temos um sistema de transporte ineficiente e caro. O meio ambiente se degrada a cada dia e não há programas para o fortalecimento do interior. Nosso estado naufraga pela inaptidão intelectual de seu povo enquanto uma meia dúzia de pessoas engrossa suas fortunas as custas do dinheiro dos impostos. A educação é uma grande área de interesse, pois quanto pior está, melhor aos governantes que mais facilmente controlam a população, incapacitando-a de formular juízo de valor sobre o que realmente deve ser feito em prol de seu bem estar. O Horário Eleitoral por si não é de tanta valia, ao menos para quem tenta manter-se informado para melhor comparar os candidatos e, sobretudo identificar o que é mentira do que é realmente uma solução ou feito. E assim a televisão se torna tão vital àqueles que preferem sonhar com a vida dos personagens da novela ou das celebridades instantâneas ou não, nenhuma notabilizada por sua capacidade intelectual ou por feitos que beneficiaram a nação.