segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A idolatria e a ignorância do povão

Incrível como o povo brasileiro é suscetível às armadilhas da mídia, basta que alguém tenha algum tempo de exposição a ela para ser considerada uma celebridade. Só que a grande maioria da população não sabe é que para se tornar célebre, a pessoa deve se distinguir por suas qualidades ou feitos. Então como tratar como tal, o participante de um reality show ou algumas mulheres que tem por ofício a exposição de seus corpos (e por isso são perseguidas por fotógrafos onde quer que vão, sempre mostrando o que o povo quer ver). Tornar célebres pessoas desse calibre acaba sendo um grande negócio àqueles que querem ganhar dinheiro fácil sobre a ignorância do povão. Existem várias publicações e programas televisivos especializados em acompanhar a vida dessa gente, seguindo-os passo a passo e os dando voz enquanto o país tem sérios problemas que deveriam estar sendo debatidos pela população.

Mas como ouvir pessoas que na grande maioria das vezes não tem nada de produtivo a dizer, enquanto o país fica na escuridão literal. Esquecemos completamente o escândalo do mensalão, os atos secretos do senado liderados pelo Sarney, a farra das passagens aéreas e o castelo do deputado. A própria Geisy que deveria estar levantando a bandeira da intolerância no meio acadêmico, participa de vários programas de TV entregando-se a superexposição e brevemente deve estar estampando a capa de alguma revista masculina, enquanto os “linchadores” caem no ostracismo.

Recentemente o Rio foi visitado pela Madona, que mobilizou toda imprensa, desfilou com nossos governantes locais e angariou sete milhões de um benevolente empresário para sua Ong. Bondade dele em preocupar-se com as crianças do mundo enquanto a Baixada Fluminense fica mais uma vez embaixo d’água. Mas não o culpo, pois a pobre da Rainha do Pop deve estar precisando bem mais do dinheiro; e dando para as vítimas da chuva não há autopromoção de sua imagem benemérita.

Outro fato que me chamou atenção foi à comoção generalizada com a morte do Michael Jackson. O astro internacional andava a muito sem emplacar nenhum sucesso. Muito pelo contrário, só era comentado por seu estranho comportamento, escândalos pessoais e por sua situação financeira precária. Era motivo constante de piada entre os humoristas, e bastou ele morrer para milhares de pessoas descobrirem-se fãs do pop star. Deu-se início a uma romaria para comprar toda sorte de quinquilharias do astro e cds. Lotaram os cinemas para acompanhar documentário póstumo, tudo sem a consciência de que enchem os bolsos daquele que viveu de explorar o filho em sua infância, o que é no mínimo incoerente.

A vida das “celebridades” desperta bem mais interesse na população do que os acontecimentos que influem diretamente em suas próprias vidas, como os atos políticos. Uma espécie de escapismo perigoso, pois além de não agregar nenhum valor positivo, nos cega, deixando-nos a mercê de políticos inescrupulosos, tão nocivos a nosso país.

No entanto, célebres como Michael Jackson e Madona possuem seu valor artístico inegável. O problema maior são as celebridades instantâneas, em sua maioria completamente descartáveis por sua nítida falta de talento. Talvez ninguém se lembre da Fogueteira do Maracanã ou da Katilce Miranda, por exemplo, como de participantes de edições anteriores do BBB. Essas pessoas são capazes de fazer tudo por um lugar sob os holofotes, mas os quinze minutos de fama sempre acabam. Contudo, ano que vem tem eleições e já figuram como possíveis candidatos gente como a mulher melão, Vampeta, Maguila, a ex BBB Mirla e pasmem: Kleber Bambam. Depois perguntamo-nos por que o país não vai pra frente. Sei bem o quanto nossa vida pode ser desinteressante, mas se não acompanharmos o que realmente importa, ela tende a piorar...

Rogério Mansera

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

E que falta faz a luz!

A cidade acostumou-se às luzes,

Não sabe mais olhar o brilho da lua.

A cidade faz-se nua por todos os seus defeitos.

Não pode mais ficar escura...

Deixar de ser vigiada.

-Deveria ser bombardeada,

Para assim seu povo, finalmente, entender.

A cidade é mal governada,

Ao passo que os governados

Deixaram-se governar.

Passando por cima de “seu” governo.

-Sei ser difícil entender...

Mas cabe aos outros, governar

Aquele que lhes governa.

A cidade acostumou-se ao escuro,

Nunca viu a luz da lua.

E bem que podia ver seus maus feitos.

Poder mais ficar à escura...

Deixar de ser vigiada.

-Deixar de ser mal governada...

Para assim, seu povo finalmente entender.

Rogério Mansera

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sete anos de matança

A violência vem roubando a cena dos noticiários desde o anuncio da vitória do Rio de Janeiro para sediar os jogos olímpicos de 2016. Mas já era de se esperar que tudo isso pudesse ocorrer, levando-se em conta a política de enfrentamento do governador Sergio Cabral, apoiada pelo governo federal. Pois é sabido que apesar dos muitos esforços para o combate às drogas, o número de usuários continua crescendo em todo mundo. Da mesma forma, para provar a ineficácia desse tipo de política, posso citar como exemplo os Estados Unidos, que gastam cerca de US$ 35 bilhões por ano “reprimindo” a expansão das drogas no planeta, sem a obtenção de sucesso. E o pior é que este problema tem uma solução muito simples.

Consumimos álcool e morremos no trânsito, de cirrose e de tudo que pode causar a loucura. Fumamos cigarros, e morremos de muitas maneiras. Como também ingerimos maconha e cocaína, tudo nas barbas da lei... -E morremos bem menos por isso. Casos de saúde pública, deveriam ser cuidados pelo Ministério da Saúde, não pela polícia. Um comércio extremamente lucrativo, como o das drogas, poderia arrecadar milhares de reais em impostos. Apenas a legalidade da maconha, droga mais consumida no mundo, poderia ser o estopim para acabar com essa guerra. A descriminalização pode gerar muitos empregos, tirar da ilegalidade agricultores e transformar traficantes em comerciantes. A violência de hoje poderia se transformar na oportunidade de amanhã, em re-socialização. Claro que todos os criminosos deveriam ser presos, mas de cima para baixo e não o inverso.

Na Holanda, milhares de turistas gastam muito dinheiro no país, para aproveitar-se da liberalidade no consumo da maconha. Imaginem esse mesmo turista no Rio de Janeiro. Com nossas favelas urbanizadas, mas sem perder seu charme pessoal. Com água, luz, saneamento básico e bem iluminadas. Com acesso facilitado, ruas asfaltadas, escadarias com corrimão e elevador para descer o lixo. Imaginem também os “pivetes” ganhando seu dinheiro como guias mirins legalizados, com a obrigação de terem de estudar pra exercer a profissão. Cada uma dessas comunidades munida de vilas olímpicas e projetos de incentivo à produção cultural. Assim, o samba voltaria pro morro, dividindo espaço com os melhores bailes funks. Atraindo um comércio diferenciado, bares e restaurantes, alguns com vista pro mar. Aqui no Rio, arrecadaríamos uma verdadeira fortuna com o turismo e isso geraria uma infinidade de empregos, principalmente para os moradores das favelas.

A guerra do tráfico matou 19.381 pessoas nos últimos três anos, e ainda morrerão muito mais até 2016. Pois os olhos do mundo todo estarão voltados para o Rio e temos que causar boa impressão. O pior é que por falta de inteligência, o governo tenta apenas se livrar dos marginais, sem de fato combater o problema; varrendo sempre a sujeira pra debaixo do tapete. E no meio dessa guerra civil já instituída, entre a polícia e os traficantes, sempre estará a população. A legalização forçaria a falência do comercio, pois ninguém mais se arriscaria a subir o morro podendo comprar no bar da esquina. E sem dinheiro pra adquirir armas e munição, não haveria confronto. Daí então, seria fácil à incursão social nos morros cariocas. Os moradores das favelas tornar-se-iam cidadãos integrados e não descriminados como hoje o são. E estas deixariam de ser motivo de vergonha para se tornarem de orgulho, gerando talentos artísticos e esportivos. E para tanto, seus habitantes deveriam ser profissionalizados e educados. Mas infelizmente a educação é um tema que não dá comentários e tão pouco “ibope”. Afinal de contas, porque precisamos dela se conseguimos mascarar nossos problemas com força bruta, carnaval, futebol e novela. E até quando vamos errar? Só sei que até as olimpíadas teremos de aturar sete anos de matança e depois tudo volta a ser como é hoje, normal aos olhos de todos nós cariocas...

Rogério Mansera

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Não há acerto sem erro

“O povo é o inventa línguas na malícia da maestria no matreiro da maravilha no visgo do improviso...”. Gostaria de que com versos primorosos de Haroldo de Campos (obra intitulada: “Circulô de Fulô”) eu inicie mais uma opinião. Há pouco tempo li aqui mesmo, um texto demonstrando a indignação de um opinante, sobre os despautérios cometidos contra a Língua Portuguesa. Mas será mesmo que os erros são tão maléficos assim para a evolução da linguagem? Utilizarei-me da máxima de que “não há acerto sem o erro”, para expressar o que sinto a respeito disso.
Quando vejo uma placa na rua com palavras escritas incorretamente, muito mais do que achar engraçado ou revoltante, consigo olhar para o lado bom e ver que alguém descobriu a importância do marketing e concomitantemente da comunicação. Então se existe à vontade e a necessidade em expressar-se, porque não transformá-las em uma oportunidade para educar. Pois deveria ser sabido que nossa língua está em constante evolução, e está oriunda necessariamente do povo! Cabe aos escritores julgar sua eficácia e formalizar seu uso em suas obras. Por esse motivo, cheguei ao pensamento de que se não há escritores, não existe como registrar o que foi inventado ou meramente pensado. E qualquer falante da língua, conhecedor dos signos, está apto a se tornar um escritor, mesmo não sendo conhecedor da gramática, pois para haver comunicação, basta que o receptor compreenda o que se quis dizer.
Por outro lado, a grande incidência de erros, faz acender um sinal de alerta para a necessidade em se educar nosso povo. Em aprimorar nosso sistema educacional, como também dar a devida importância à gramática. Instrumento que normatiza o uso da língua e explica seus meandros, nos instruindo em como nos expressarmos claramente na forma escrita. Mas imaginem também que o erro alheio nos faz testar nossos conhecimentos. Ter a oportunidade de reconhecê-los e até mesmo de rir deles, nos dá certeza de quanto é bom saber.
Então, não deveríamos acreditar que certos estão aqueles que criticam os que tentam registrar aquilo que se pensou, mesmo que de forma errônea. Por isso, não entendo como algumas pessoas podem ser tão intolerantes quanto aos falares e escreveres errados. Pois tolher os erros é impedir acertos futuros. Apontá-los, no entanto, é o começo para despertar o interesse em se fazer do jeito certo. Não sei se ando me influenciando por versos como os de Haroldo de Campos, ou se sou apenas um entusiasta da “Língua Brasileira” em suas mais variadas formas, todavia por esse motivo, ache esse tipo de erros tão bonitos e incondenáveis.